Vitor Gamito, ciclista profissional entre 1993 e 2004, regressa à Volta a Portugal em bicicleta após 10 anos de interregno e com 44 anos de idade. Um desafio arrojado e que é relatado na primeira pessoa neste blogue e na sua página oficial de Facebook - www.facebook.com/gamito.vitor
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Campeonato Nacional de fundo - de rastos!
Já não me lembrava desta sensação. Quando o cansaço físico é tal que aproveitamos todo o tempo livre para fazer ...nada! Nem sequer pensar muito!
Terminei há 2 dias mais um ciclo de carga. Ciclo este que coincidiu com os campeonatos nacionais. Na Sexta-feira o de contra-relógio, e depois no Domingo o de fundo. Mas logo no dia seguinte (Segunda-feira), aproveitei o facto de estar próximo da Serra da Estrela e fiz mais um treino duro com passagem pelo alto da Torre. Na Terça-feira foi o último dia deste ciclo de carga, com um treino de 4h30 e 2500 metros de subida acumulada. Ontem e hoje estou de rastos! Sem energia, com dores musculares, e sem vontade de fazer o que quer que seja! Mas como me comprometi a escrever uma crónica sobre o fim-de-semana passado, aqui vai ela.
Em relação ao campeonato nacional de contra-relógio, está tudo dito, aqui >> http://on.fb.me/1xnvJLg.
Quanto ao Nacional de fundo ou estrada, como queiram chamar, deixo-vos agora o rescaldo possível.
O último campeonato nacional de fundo para a categoria elite em que participei foi em 2003. Sim, há 11 anos. Nunca fui um ciclista com resultados de destaque em provas de um dia. Durante todo o meu percurso desportivo, de 20 anos, apenas consegui uma medalha de prata em nacionais de fundo, tinha eu 15 anos. Tenho alguns títulos de campeão nacional, mas em disciplinas mais individuais, nomeadamente contra-relógio (3 titulos), perseguição em pista (2 títulos) e rampa (1 titulo).
Talvez por me faltar uma ponta final rápida, sempre encarei a minha participação em nacionais de fundo como um treino e como mais um elemento da equipa para ajudar colegas mais capacitados para conseguirem uma boa classificação. Uma boa classificação nesta prova significa ganhar uma das 3 medalhas em jogo. Os 3 primeiros é o que fica para a história da modalidade, todo o resto pouca importância tem.
A minha participação neste campeonato nacional de fundo regeu-se pelos mesmos objectivos. Fazer mais um bom treino e ajudar os meus colegas mais talhados para este tipo de competição.
O percurso escolhido para este ano era particularmente duro. Bem mais que os anteriores. Não que eu tivesse conhecido os dos anos anteriores, mas este foi um dos assuntos mais comentados no seio do pelotão elite. Aliás, só a percentagem de desistentes diz tudo. Em 62 elites que estiveram no tiro de partida, apenas 28 cumpriram os 201km de prova! Eu não fui um desses 28. Na última passagem pela meta (5ª volta) decidi encostar às boxes. Porquê? Porque tinha descolado do grupo dianteiro alguns quilómetros antes, e por isso já não iria fazer uma classificação de destaque, nem iria já servir de ajuda aos meus colegas que ainda seguiam na frente. Porque já tinha 170 quilómetros feitos, com 3200 metros de desnível acumulado, portanto já um treino muito bom e bem duro! Porque nos dois dias seguintes ainda tinha treinos muitos duros para cumprir. Não podia gastar todos os cartuchos num só dia.
O objetivo único continua a ser a Volta a Portugal. Todo o resto serve de preparação. É muito difícil, para não dizer impossível, estarmos em excelentes condições físicas nestas provas de fim-de-semana que antecedem a grandíssima e ao mesmo tempo colocarmos carga durante a semana com vista a prepararmos o corpo e a mente para os 11 dias que compõem a Volta a Portugal.
Neste momento para mim o mais importante é que, de competição em competição as minhas sensações estão a melhorar e eu sinto-me mais integrado nas movimentações do pelotão e da minha equipa. Não é fácil recuperar 10 anos de inatividade! A minha vontade é de treinar forte todos os dias, para tentar recuperar este tempo de atraso. Mas o corpo humano não funciona assim, e cada um tem os seus próprios limites. Tenho que escutar o meu corpo, e descansar quando ele me pede para descansar, senão corro o risco de deitar tudo a perder a tão pouco tempo de realizar este desafio.
Depois de uma semana de carga, tenho agora 3 dias de recuperação ativa (treinos suaves de 2 horas). Depois recomeço um novo ciclo de carga – será o último - que vai coincidir com o Troféu Joaquim Agostinho (10 a 13 Julho) e logo de seguida irei fazer mais um estágio na Serra da Estrela.
Quanto ao joelho que me atormentou durante uma boa parte da minha preparação, felizmente pouco já se faz sentir, excepto nos dias que apanho chuva ou frio a treinar.
Em relação ao meu peso, coloquei como objectivo entrar na Volta a Portugal com 66,5kg, neste momento estou com 67,5kg. Mas será possível perder ainda 1kg até ao dia 30 de Julho? Sinceramente, não vai ser nada fácil, sobretudo porque já só tenho 4,5% de massa gorda.
Este tem sido para mim a área mais difícil de suportar. Não são os treinos duros, não é a chuva ou o frio, não é o stress em competição, não são os muitos dias fora de casa, mas sim a dieta. Para quem gosta de comer, e beber, não é nada fácil esquecermos alguns dos alimentos que mais gostamos, muitos deles nada saudáveis diga-se, e reduzir a quantidade de outros.
Agora me lembro porque razão comi duas caixas de pastéis de Belém de uma enfiada, logo após terminar a Volta a Portugal que venci :)
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