sexta-feira, 27 de junho de 2014

Análise á condição fisica



Para aproveitar da melhor forma a viagem de comboio para a Covilhã, que neste momento estou a fazer, vou-vos falar um pouco da minha condição física atual. Este texto será melhor entendido por quem tem conhecimentos sobre treino para o ciclismo.

Como já todos devem saber, estou a preparar a minha participação em mais uma Volta a Portugal em bicicleta. Será sem qualquer dúvida, maior desafio desportivo da minha vida (até ao momento)!
Mas porquê, se eu já fiz 10 Voltas a Portugal?!
Muito simples. Porque estive afastado 10 anos da alta competição, porque já tenho 44 anos, porque só estou a treinar a tempo inteiro há cerca de 2 meses, e como se não bastasse, no inicio da minha preparação tive uma grave lesão num joelho que me obrigou a parar durante todo o mês de Fevereiro. Digamos que estão todas as condições reunidas para ser realmente uma grande loucura a minha participação na prova de ciclismo mais dura em solo português e "contra" a elite do ciclismo nacional!

Confesso que em Fevereiro, aquando da minha lesão, pensei em desistir deste desafio. Se em condições ótimas já seria difícil me apresentar na Volta num bom nível de forma, com a lesão o tempo de preparação ficou demasiado curto!
Não digo que não tenha já abortado alguns projectos, mas regra geral sou muito persistente e vou sempre até ao meu limite.

Dividi esta minha preparação em 3 fases:
1ª fase - Novembro a Abril: treino nas horas livres. Nesta fase tive que conciliar o meu trabalho na GoldNutrition com o treino. Basicamente aproveitei ao máximo os fim‑de‑semana livres para acumular horas de treino, e durante a semana treinava em rolos ao fim da tarde após o horário de trabalho. Em Abril, a empresa já me disponibilizou dois dias por semana para me dedicar ao treino. Nesta fase participei em alguns eventos de BTT, mas não fiz competições de estrada.

2ª fase - Maio: A partir deste mês fiquei totalmente disponível para me dedicar à preparação. Agradeço mais uma vez à GoldNutrition por esta oportunidade. Aproveitei ao máximo este mês para acumular horas em cima da bike. Fiz inclusive dois estágios na Serra da Estrela. Foi um mês muito duro! Mas também foi neste mês que consegui os melhores valores de performance (VO2máx e FTP).

3ª fase - Junho/Julho: No inicio de Junho tornei-me oficialmente ciclista da LA-ANTARTE-ROTA DOS MÓVEIS. A 9 de Junho participei na primeira competição para elites, o Grande Prémio Abimota. Desde então fiz, GP Abimota, Taça de Oliveira de Azeméis, Volta a Albergaria e Gerês Granfondo, esta última uma prova para amadores.
Até Volta irei participar ainda no Nacional de crono (já hoje) e de estrada (no próximo Domingo), no Troféu Joaquim Agostinho (Torres Vedras) e por fim na SkyRoad Granfondo Serra da Estrela. Entretanto ainda faço mais um estágio na Serra da Estrela.

Com base nas minha sensações e valores fisiológicos, sobretudo do mês de Maio, acreditei que a minha adaptação às competições até poderia nem ser muito dolorosa. Nada mais errado! Logo no GP Abimota apercebi-me que esta tarefa iria ser ainda mais complicada do que eu imaginava. E olhem que eu até sou pessimista! Sofri imenso na etapa do Abimota. Também diga-se que dificilmente a etapa poderia ser mais dura. Até os ciclistas elites comentaram a dureza da etapa. De qualquer forma sofri como não me lembro de ter sofrido!
Esta situação deixou-me muitas dúvidas. Será que o nível do ciclismo elite atual é assim tão superior em relação às minhas capacidades físicas atuais? Será que são as variações constantes de ritmo, na primeira hora de prova, que me "matam" ao ponto de quando chegamos ás subidas já estou "morto"? Será que foi apenas um dia mau? Será que foi por não estar habituado a treinar á hora que decorreu a etapa (14h00-18h30)? Ou será que foi do calor repentino?
A única forma que eu conheço para conseguir responder a algumas destas questões é comparar dados. Neste caso teria que comparar dados de alguns treinos meus, os mais duros, com os dados meus em competição, e tentar chegar a alguma conclusão objectiva.

Para isso, nas duas provas seguintes - Taça de Oliveira de Azeméis e Gerês Granfondo - utilizei o meu potênciometro (roda traseira PowerTap). A prova da Taça foi disputada no Sábado seguinte, e á mesma hora do Abimota - 14h00. Consistiu em cerca de 150km, também eles muito duros, e em que a última dificuldade do dia foi a subida à famosa Serra da Freita. Seria um tira-teimas. Ver se as minhas sensações seriam tão más com foram no Abimota.
Ok, acabaram por ser ligeiramente melhores, mas mesmo assim não aguentei o ritmo do primeiro pelotão, no inicio da subida para a Freita. Fazia muito calor (+ de 35ºC), e o meu pulso ia muito alto. Mas pelo que deu para reparar nos dados de potência instantâneos, os valores não justificavam aquela minha dificuldade.
O resultado final desta minha participação, foi um 41ª lugar a cerca de 8 minutos do primeiro classificado. O prémio de consolação foi o facto de ter chegado junto com o vencedor da Volta a Portugal do ano passado - Alejandro Marque.

No dia seguinte, logo às 8h30 da manhã deu-se o tiro de partida para a Gerês Granfondo. Mais 160km com 3200 de subida acumulada. Estavam à partida 1600 ciclistas, a grande maioria amadores. Nesta prova voltei a levar potenciometro. A ideia seria depois cruzar informação de treinos meus anteriores com estas duas provas.
Neste evento senti-me bem melhor que no dia anterior. E por isso ficaram mais dúvidas! Será que foi por a concorrência ser inferior? Será que foi porque este Granfondo foi de manhã e a temperatura era mais agradável?

Estava bastante curioso para analisar todos os dados deste fim‑de‑semana.
Fiz uma tabela com os dos dados mais relevantes, e com base nesta tabela conseguimos tirar algumas conclusões.

A primeira, e talvez a mais importante, é que os valores de potência em treino são superiores ao valores que consegui em competição. Isto revela que a minha capacidade física atual está ao nivel do pelotão elite nacional. Mas por outro lado significa que algo de anormal se está a passar! Não é normal que a performance em treino seja superior à performance em competição!

Para não me alongar mais, as razões que podem estar a prejudicar a minha prestação em prova são:
a) Ou ainda não me adaptei aos horários tardios das competições
b) Ou estou com dificuldade de adaptação às temperaturas mais elevadas
c) Ou o meu corpo não está a recuperar bem da carga de treinos, e estou a precisar de mais intervalos de recuperação.
d) Ou as 3 razões atrás em simultâneo

Por via das dúvidas, comecei já a tentar solucionar as 3 razões atrás.
a) e b) Os meus treinos agora começam quase sempre às 11h00 e terminam por volta das 16h00

c) Levantei o pé na carga de treinos, sobretudo em volume, e vou fazer análises ao sangue para despistar uma eventual anemia.

Como vêem, a performance humana não é pura matemática, mas os números dão uma boa ajuda

#VitorGamitonaVolta com @GMTSports

Sem comentários:

Enviar um comentário