sábado, 16 de agosto de 2014

Mãe, não caí!


Missão cumprida! Concluí a minha última Volta a Portugal em bicicleta.

Antes de anunciar publicamente que intencionava participar de novo na Volta a Portugal em bicicleta, anuncio esse feito a 4 de Novembro do ano passado (http://vitorgamitonavolta.blogspot.pt/2013/11/vitor-gamito-na-volta-primeiro-anuncio.html), estive durante alguns meses a tentar avaliar os riscos que esta decisão comportava.
A 4 de Novembro ainda não tinha uma equipa para representar e nem o aval do centro de medicina desportiva. Sem estes dois requisitos este desafio não seria possível. Por outro lado já tinha o apoio da família, dos amigos e inclusive do presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Desde o momento do meu anúncio nas redes sociais, juntou-se mais uma grande força de apoio, os fãs.

Apesar do apoio das pessoas mais importantes, havia uma grande margem de risco associado. E se eu não passasse nos exames médicos? E se eu não arranjasse equipa? E se eu não aguentasse a exigência da preparação e tivesse que desistir a meio da mesma? E se eu não aguentasse o ritmo da Volta a Portugal e tivesse que desistir antes de chegar a Lisboa? Afinal já tenho 44 anos e os últimos 10 estive afastado da competição.
Muitos “ses”? Talvez, mas mesmo assim decidi arriscar, mesmo sabendo que poderia defraudar as expectativas de milhares de fãs e dos amigos que sempre viram um Vitor Gamito como um lutador e um vencedor.

Numa outra fação de apoio estiveram os “velhos do Restelo”, sempre desconfiados, e diria mesmo chocados com este meu atrevimento. E quando escrevo  “apoio”, não é engano, eles também me deram muita força para seguir sempre em frente e não desistir.
Estes “velhos do Restelo” eram compostos sobretudo por antigos ciclistas frustrados ou velhas glórias com receio de perderem a sua estátua – um até me disse, minutos antes de começar a Volta: "espero que saibas o erro que estás a cometer!” , treinadores de bancada e alguns jornaleiros ainda do período dos dinossauros.

Mas para ser bem sucedido nesta dura empreitada, teria que mudar alguns dos meus hábitos mais recentes, adquiridos após ter deixado a alta competição, em 2004. Sobretudo as noitadas regadas com muita caipirinha, e a alimentação descuidada. Talvez isto tenha sido o mais difícil de cumprir. Submeter-me novamente às mesmas privações que me submeti durante 20 anos enquanto profissional de ciclismo!

Felizmente nunca parei totalmente com a atividade desportiva, inclusive no últimos 5 anos comecei a fazer BTT numa base regular, participando mesmo em competições a nível internacional, o que facilitou bastante o meu regresso ao ciclismo profissional. Claro que a exigência física e sobretudo a competividade deste último é muito superior. Os 9 meses que faltavam até à Volta a Portugal teriam que ser de um empenho e dedicação absolutos. Mesmo assim nunca conseguiria recuperar os 10 anos de atraso e de “má vida”.
Sobre a minha preparação não me vou alongar, pois foi descrito quase ao pormenor nas várias crónicas que regularmente coloquei no meu Facebook e no meu blogue.

Claro que seria tudo fácil demais se não tivesse pelo menos um obstáculo para transpor. A lesão no joelho direito que me obrigou a parar o mês todo de fevereiro foi o maior obstáculo que me apareceu, e que colocou quase em risco a continuação deste projeto.

Nunca escondi a razão ou os objectivos do meu regresso à Volta. Não regressei á procura de enriquecer o meu palmarés, mas sim para ter a oportunidade de cumprir a última Volta a Portugal, consciente que esta seria mesmo a última. No fundo fazer a despedida que me foi impedida de fazer há uns anos atrás e escrever o último capitulo do meu livro “As Voltas de uma Carreira”.

Mas queria aproveitar esta Volta de despedida também para fazer “as pazes” com o grande público.
Tenho consciência que quando competia ao mais alto nível, não era um ciclista comunicativo, reservado até. Mas era a forma que eu tinha para me concentrar a 100% na minha missão principal: chegar em primeiro à meta e VENCER.

Mas mais recentemente o BTT ensinou-me que para Vencer não é necessário chegar em primeiro. Quando comecei a participar em provas de BTT muito duras, comecei-me a aperceber que muitos participantes, mesmo a cortar a meta horas depois dos primeiros, festejavam como se tivessem vencido a prova. E tinham! Esses atletas não participavam para competir contra outros atletas, mas para se superarem a eles próprios. Algo que eu desconhecia ou não tinha pensado nisso. Superação pessoal. Algo que devia ser ensinado e incutido aos jovens que dão as primeiras pedaladas no ciclismo.

Nesta última Volta eu também queria vencer, mas sem necessidade de chegar em primeiro. E como? Recebendo o carinho e o reconhecimento do público.
Esta seria uma Volta a Portugal diferente. A Volta de agradecimento aos fãs que me apoiaram durante os 20 anos de carreira, a Volta que iria desfrutar cada momento de uma forma muito intensa e emotiva. A Volta que não interessaria a classificação mas sim a quantidade de recordações que ficariam na minha memória.
E venci!

No cantinho especial onde tenho guardada a Volta a Portugal que venci porque cheguei em primeiro, ficará esta última, que também venci mas porque foi a que me deixou mais recordações, a que me fez chorar de emoção e alegria, a que me arrepiou em plena subida à Torre, a que mais ouvi gritar o meu nome, a que mais fotografias e autógrafos me pediram, a que mais mensagens recebi com testemunhos que me puseram, uma vez mais, uma lágrima ao canto do olho.

E mesmo não recebendo o reconhecimento da organização ou das entidades oficiais, esta foi a despedida perfeita, que qualquer desportista ambiciona ter. Foi a despedida e o reconhecimento dos fãs.

Resta-me agradecer do fundo do coração, a todos os parceiros que me apoiaram nesta loucura. Sem eles isto não teria sido possível. Agradecer à minha família, sobretudo à minha mulher, por me apoiarem incondicionalmente e mais uma vez cederem parte do tempo que lhes seria destinado.
Agradecer ao Mário Rocha, aos meus colegas e a todo o staff da equipa LA-ANTARTE-ROTA DOS MÓVEIS por me terem acolhido de uma forma incrível!
Agradecer aos amigos por estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis e nunca terem deixado de acreditar.
E por fim, agradecer aos milhares de fãs que me deram força nestes duros meses de preparação e que gritaram o meu nome nas estradas de Portugal, ao ponto dos ciclistas russos pensarem, nas primeiras etapas, que “gamito” seria uma palavra portuguesa sinónimo de “força” ou “bora lá” ☺

E agora?
Isto não foi uma despedida, mas sim o encerramento, ainda que tardio da minha carreira como ciclista.

Depois de uma curta pausa para recuperar da lesão no joelho, irei regressar ao BTT a partir de Setembro, e vou continuar a comunicar e a deixar dicas na minha página de Facebook.

Entretanto irei pensar no próximo desafio para concretizar durante o próximo ano.

Ah, e... mãe, não caí! (http://vitorgamitonavolta.blogspot.pt/2014/07/nao-caiste-filho.html)


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