domingo, 10 de agosto de 2014

De costas ou de barriga, eu vou conseguir!




Perdi a conta à quantidade de contra-relógios que fiz durante os meus 20 anos de carreira. Também não sei de cor quantos deles venci. Mas foi seguramente a maioria. Pelo menos lembro-me que fui por duas vezes campeão nacional desta especialidade do ciclismo, a que chamam a “prova da verdade”, e ainda duas vezes campeão nacional de perseguição individual em pista.

Sempre gostei do esforço em solitário. A maioria dos meus treinos eram e ainda são realizados a solo, e talvez seja esta uma das razões por eu saber gerir tão bem as minhas energias durante uma determinada distância em que temos dar tudo o que temos e o que não temos. Claro que a qualidade genética é fundamental para os bons resultados, mas não é menos verdade que o contra-relógio é um exercício de superação e de sofrimento individual.

Ontem realizei o último crono da minha vida. E neste é caso para dizer que dei mais o que não tinha do que o que tinha. Pedalei mais com o coração que com as pernas.
Terá sido o primeiro contra-relógio da minha vida que sabia de antemão que não iria fazer uma boa classificação. Talvez por isso tivesse sentido falta daquele nervoso miudinho que me aparecia horas antes do meu horário de partida, e que ia aumentando até ao ponto de já quase não conseguir falar e nem ouvir ninguém minutos antes do tiro de partida. Este nervoso miudinho e até ansiedade, ontem deram lugar à emoção e ao nó na garganta.

A Volta a Portugal não terminou ontem, mas estava-me a despedir do exercício que mais preencheu o meu palmarés.
Percorri os 29 quilómetros de crono a dar o meu melhor. Mesmo sabendo que este melhor seria muito modesto. Além do cansaço acumulado de já 9 dias de competição, o meu joelho está mesmo no limite.

Durante este exercício estamos apenas com nós próprios. Temos que nos saber incentivar, não perder o foco, e tudo isto no limiar da dor e da angústia.
Ontem só dizia a mim mesmo: “Vamos Vitor, é o último!” O coração e a alma queriam mais, mas as pernas não colaboravam.
Quando terminei o contra-relógio, tinha o 8º melhor tempo. Nada de especial, atendendo que ainda faltavam chegar os melhores. Mas foi um sensação de alivio brutal, e ao mesmo tempo um vazio e uma angústia. Tinha fechado mais um capitulo da minha carreira.
Quando a jornalista da RTP me entrevistou mal cortei a linha de meta, mais uma vez não me consegui conter, e chorei. Tem sido a Volta a Portugal mais emotiva das onze que fiz.

Esta noite pouco dormi. Não sei se por culpa da forte constipação e da dor de garganta que agravaram, ou se pelo facto de hoje ir realizar a última etapa da minha última Volta a Portugal.

Mas como já o disse. Faltam apenas 167,1km para terminar o último capitulo do meu livro “As Voltas de uma carreira”, e de costas ou de barriga eu vou fazê-lo!

Até já, em Lisboa às 17h30.

#ImpossibleIsNothing

1 comentário:

  1. Um exemplo! Não era fã do Vitor Gamito, mas ao longo dos anos e ao me aperceber de tao grande atleta que era e é, fiquei um franco admirador!
    Parabéns !!!

    ResponderEliminar